domingo, 19 de julho de 2009

Harry Potter ataca pela sexta vez

Por Lorena Tabosa


Longe de ser a catástrofe cinematográfica de seu antecessor, Harry Potter e o Enigma do Príncipe até que convenceu, de leve, os fãs da série. Os cortes de praxe estavam lá, além das adaptações mal-adaptadas, porém, ainda assim, o saldo foi positivo: pudemos assistir ao desabrochar de Daniel Radcliffe (Harry Potter) no papel de um implacável comediante.

O filme tem início num momento diferente do que está no livro, e mesmo que tal fato não cause nenhum dano aparente à trama, a impressão que dá é a de que a história corre num furor imbatível. Tudo acontece rapidamente. O que deveriam ser longos e tortuosos 153 minutos, parecem passar num "vush". Também num 'piscar de olhos' foi o beijo, tão esperado pelas moçoilas de plantão, do casal principal, Harry e Gina. Engraçado é constatar que os pudores só valem entre os dois, uma vez que ambos se mostraram bastante voluptuosos em suas experiências amorosas anteriores.

Ênfase (merecida) para a falta que fez a equipe de animação em alguns pontos. Ocupados demais com os takes urbanos de destruição, acabaram por esquecer detalhes importantes, como os Inferi. Certo que as tais criaturas deveriam ser horrendas, afinal, mortos-vivos, por convenção, não devem ser bonitos. No entanto, fazê-los horrendos através da pura ausência de técnica é crueldade.

Mas nem só de tragédias técnicas e roteirísticas é que se faz um blockbuster. Os atores, que nas primeiras produções me faziam lembrar, inevitavelmente, daqueles bonequinhos de ventríloco, finalmente demonstraram um domínio razoável do próprio corpo e de suas potencialidades. Tom Felton (Draco Malfoy) atingiu o que podemos chamar de "seu melhor", ao interpretar, otimamente, as angústias enfrentadas por seu personagem neste volume da série.

No mais, apenas um último ponto de observação: a não-aparição de Voldemort no filme sugere que os assustadores takes pelos quais David Yates fez Ralph Fiennes passar, em Harry Potter e a Ordem da Fênix, ainda não foram digeridos. Pelo menos não ao ponto de repetir a dose.

Recomendo! Afinal, cada um deve tirar suas próprias conclusões.

terça-feira, 19 de maio de 2009

REVEZES APRESENTA



Clique nas fotos para maior resolução
Mais informações: cinerevezes@hotmail.com

terça-feira, 5 de maio de 2009

REVEZES APRESENTA


Clique na foto para maior resolução
Mais informações: cinerevezes@hotmail.com

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Lista de premiados do Cine PE 2009

Por Alexandre Cunha

Não podíamos exigir muito. Quando os concorrentes tratam-se de Estranhos, Mistéryos, Pela Vida, Pelo Tempo, entre outros, não nos é dado o direito de reclamar. Os jurados fizeram o melhor (ou quase isso) possível com o 'material' que tinham em mãos. Justos, os prêmios para o trio protagonista de Praça Saens Peña. Não tanto, porém, o dado para Leonardo Miggiorim; Gustavo Falcão, por exemplo, foi extremamente mais eficaz com seu personagem no longa de Vinícius Reis. Alô, Alô, Terezinha! ter saído como grande vencedor não surpreendeu, a reação do público preludiava isso. Meu voto seria para Praça Saens Peña, ou Um Homem de Moral. O documentário sobre Chacrinha (se é que foi sobre ele mesmo) fez comédia da vida alheia, ridicularizando os personagens entrevistados. Pôr dois gagos para conversar e fazer disso algo cômico é, no mínimo, repugnante. Enfim.

Entre os curtas, nenhuma surpresa e mais satisfação. Muro, SuperBarroco e Os Sapatos de Aristeu foram merecidamente premiados. Destaque também ao prêmio de Melhor Curta-Metragem Digital para A Ilha, animação muitíssimo interessante sobre o "trânsito cotidiano" das metrópoles.

Mais uma vez, o Cine PE mostra que os maiores atrativos do festival são, de fato, os curtas. Torço, esperançoso, em relação a dois fatores nas próximas edições: uma produção de longas nacionais mais relevante e, consequentemente, uma maior minúncia da curadoria em relação a esses projetos. É desestimulante constar que pessoas apostaram financeiramente em produções como Pela Vida, Pelo Tempo, enquanto realizadores extremamente talentosos batalham para concluir um mísero curta. Utópico, alguns dirão. Resta-nos, portanto, sermos brasileiros e não desistirmos nunca.

Segue, abaixo, a lista completa dos premiados:

Mostra Pernambuco

Melhor Longa-Metragem: KFZ-1348

* Doc com direção de Gabriel Mascaro e Marcelo Pedroso.

Melhor Curta-Metragem (1º colocado): Tebei

* Doc dirigido por Gustavo Vilar, Hamilton Costa Filho, Paloma Granjeiro e Pedro Rampazzo.

Melhor Curta-Metragem (2º colocado): Ave Sangraia-Sons de Gaitas, Violões e Pés

* Doc com direção de Rayanaia Uchoa, Rebeca Venice e Thiago Barros

Mostra Competitiva de Curtas-Metragens em Digital

Melhor Curta-Metragem Digital: A Ilha (DF/Animação de Ale Camargo)

Melhor Diretor: Marão, pelo curta O Anão que Virou Gigante (RJ/Animação)

Melhor Roteiro: Maurício Rizzo, pelo curta Quintas Intenções (RJ/Ficção)

Melhor Montagem: Marc d’ Rossi, pelo curta Nello’s (SP/Doc)

Melhor Curta-Metragem/Júri Popular: Manual para se Defender de Alienígenas Zumbis e Ninjas (SP/Ficção/Direção de André Moraes)

Prêmio Especial do Júri: Um Artilheiro no meu Coração (PE/Doc de Diego Trajano, Lucas Fitipaldi e Mellyna Reis)

Prêmio Especial da Crítica/Imprensa: A Ilha

Mostra Competitiva de Curtas-Metragens em 35mm

Melhor Curta-Metragem: Superbarroco (PE/Ficção/Direção de Renata Pinheiro)

Melhor Diretor: Sérgio Luiz René Guerra (Os Sapatos de Aristeu/SP/Ficção)

Melhor Roteiro: Marcela Arantes (Eu e Crocodilos/SP/Ficção)

Melhor Atriz: Prêmio coletivo para as atrizes de “Os Sapatos de Aristeu”

Melhor Ator: Everaldo Pontes (pelo curta Superbarroco)

Melhor Direção de Arte: Diogo Balbino, Rita Carelli, Leonardo Lacca (pelo curta Muro/PE/Ficção/Direção de Tião)

Melhor Trilha Sonora: Bernardo Gebara (pelo curta Distração de Ivan/RJ/Ficção com direção de Cavi Borges e Gustavo Melo)

Melhor Edição de Som: Alessandro Laroca (pelo curta Blackout/RJ/Ficção com direção de Daniel Rezende)

Melhor Montagem: João Maria (pelo curta Muro/PE/Ficção/Direção de Tião)

Melhor Fotografia: Juliana Vasconcelos (pelo curta Os Sapatos de Aristeu)

Prêmio Especial do Júri: Cocais, a Cidade Reiventada (SP/Doc/Direção de Inês Cardoso)

Prêmio Especial da Crítica/Imprensa: Muro

Menção Honrosa do Júri: Para a trilha sonora do filme Nós Somos um Poema

Melhor Curta-Metragem/Júri Popular: Blackout (RJ/Ficção/Direção de Daniel Rezende)

Mostra Competitiva de Longas-Metragens

Melhor Longa-Metragem: Alô, Alô, Terezinha! (RJ/Doc/Direção de Nelson Hoineff)

Melhor Direção: Vinícius Reis (Praça Saens Peña/RJ/Ficção)

Melhor Roteiro: Ricardo Dias (Um Homem de Moral/SP/Doc/Direção de Ricardo Dias)

Melhor Ator: Chico Diaz (Praça Saens Peña)

Melhor Atriz: Maria Padilha (Praça Saens Peña)

Melhor Atriz Coadjuvante: Isabela Meireles ((Praça Saens Peña)

Melhor Ator Coadjuvante: Leonardo Miggiorim (Mistéryos/PR/Ficção)

Melhor Fotografia: Alziro Barbosa (Miytérios)

Melhor Trilha Sonora: André Moraes (Estranhos/BA/Ficção)

Melhor Edição de Som: Fernando Henna (Um Homem de Moral)Melhor Direção de Arte: Zenor Ribas (Mistéryos)

Melhor Montagem: Daniel Maia, Diana Gândra e Felipe Paes (Alô, Alô, Terezinha!)

Prêmio Especial do Júri: Um Homem de Moral

Prêmio Especial da Crítica/Imprensa: Praça Saens Peña

Melhor Filme/Júri Popular: Alô, Alô, Terezinha!

Troféu Gilberto Freyre: Alô, Alô, Terezinha!


domingo, 3 de maio de 2009

'Estranhos' de Paulo Alcântara é bem recebido pelo público do Cine PE

Por Aline Fontelli

A noite do sábado no Cine PE superou o grande público da sexta-feira. Com o teatro do Centro de Convenções lotado, quem compareceu a 13° edição do festival acompanhou a Mostra Cel.U.Cine e os curtas digitais e em 35mm, que iniciaram as competições.

A última exibição da noite foi do longa-metragem baiano ‘Estranhos’ do diretor Paulo Alcântara, que com um roteiro simples, conseguiu agradar incrivelmente o público do festival, famoso pelas suas críticas rigorosas. O filme foi o último longa exibido dentro da categoria a disputar o Troféu Calunga pela mostra competitiva de longas-metragen
s.

Também esteve presente no evento e promovendo o filme, o ator Jackson Costa, que está no elenco do longa. Ele já participou de produções da Rede Globo, como as novelas Paraíso e Duas Caras.

O diretor até que foi feliz em acertar numa história que conta de forma cômica várias histórias dentro do uma só. Coisa bastante comum dentro do cinema. Uma professora primária que quer rever as filhas que estão com o pai alcoólatra, e é cortejada pelo açougueiro e pelo diretor da escola onde trabalha. Uma ex-prostituta que apanha do marido, mas se contenta com o fardo. Um assaltante gay e o seu parceiro. Duas crianças que estão descobrindo o primeiro amor. E um “louco” apaixonado. Enquanto os personagens se revelam ao público, o drama (que acaba não parecendo bem um drama) da história aumenta. No fim, todos acabam no mesmo lugar, com um trágico fim (que está mais pra feliz).

Diante das opiniões fora do teatro, eu diria que Paulo Alcântara acertou a medida da adaptação de ‘Estranhos’, que foi roteirizado para a realidade baiana por Carla Guimarães. O roteiro original é do espanhol - peruano Santiago Roncagliolo. Vale salientar que elenco do filme é quase todo de atores baianos, com exceção da atriz mineira Mariana Muniz.

sábado, 2 de maio de 2009

“Quer alho da cabeça roxa?”

Por Lorena Tabosa

O primeiro longa-metragem a ser exibido na noite de ontem, no Cine-PE, foi Alô, alô, Teresinha!, um documentário dirigido pelo jornalista, produtor e diretor de televisão, Nelson Hoineff, que tem estreia comercial prevista para o fim do ano.

O filme, a princípio, fala sobre a obra de Abelardo Barbosa, o famoso Chacrinha. Contudo, talvez até pelo próprio formato do vídeo, os depoimentos dominam a produção, e acabam conduzindo a trama aos dramas pessoais dos entrevistados, ao invés de tratarem das histórias do Chacrinha.

Mais de 25 chacretes foram contatadas, e logo encheram a tela com os desmazelos trazidos pelo passar do tempo. Sem os corpos esculturais e a fama de antigamente, que lhes rendiam várias propostas por parte do sexo masculino (como o filme faz questão de deixar claro ao trazer falas do tipo “fulano ‘comeu’ cicrana”), as chacretes traçam um triste panorama do que é uma vida sem reservas, sem pudores. A única que parece ter “vingado” na “carreira artística” é Rita Cadillac, que ganha seu pão de cada dia permitindo que deem beijocas em seu bumbum malhado, uma vez que deixou de atuar em produções pornográficas.

Não é preciso procurar muito para encontrar outra expressão de humor negro no longa: as frustrações dos ex-calouros. Muitos deles ainda não superaram as buzinadas que levaram no programa, como é o caso de Manuel de Jesus, que ainda hoje jura, de pés juntos, que canta muito melhor que Roberto Carlos.

Esse tipo de tomada despertou no público levantes e mais levantes de gargalhadas. Por conta disso, é plausível afirmar que o filme foi muito bem recebido, ainda mais levando em conta que foi sua primeira exibição para o grande público. No entanto, mesmo sabendo que o riso nem sempre está relacionado a uma veia cômica, tais reações levam a pensar que o povo gosta mesmo é de rir da desgraça alheia.

Apesar disso, a obra tem momentos interessantes, como depoimentos de artistas, que vão desde a saudosa Dercy Gonçalves até o Russo, e da viúva do Abelardo. De acordo com Alceu Valença, “O chão de Chacrinha foi a cultura popular”. Ele está, em parte, certo. O programa do Chacrinha foi o primeiro a dar espaço ao movimento da Tropicália, e seu estilo “escrachado” sempre fez sucesso com o público. No entanto, haveremos de convir que jogar bacalhau para a plateia pode não ser a melhor forma de levar cultura à população.

Nelson Hoineff, que já esteve à frente de mais de 500 documentários, começará a gravar seu novo longa em duas semanas. Este contará a história de Cauby Peixoto, cantor brasileiro em atividade desde os anos 1940, e que é famoso pelo seu timbre de voz grave e aveludado e pelo seu estilo excêntrico. Esperemos que seja realmente o Cauby o protagonista da produção.

Entrevista: Chico Diaz

Por Aline Fontelli

Na noite de quinta-feira (30), o Cine-PE exibiu o filme 'Praça Saens Peña', uma ficção do diretor e roteirista Vinícius Reis.

Chico Diaz, ator consagrado, nascido no México, trabalhou em cinema, televisão e teatro, e faz parte do elenco do longa-metragem, que foi exibido pela primeira vez ao grande público
da noite.

Ele já participou de diversas edições do festival, e em rápida entrevista falou sobre sua carreira.

Chico trabalhou com grandes nomes do cinema nacional e também do cinema pernambucano, como Cláudio Assis e Paulo Caldas.

Também atuou em 'Baile perfumado', um clássico do cinema local, e que serviu como um divisor de águas para o cinema de Pernambuco, retomando com mais força as nossas produções, depois do período de inércia pós Ciclo do Recife.


Aline Fontelli -
Diante de todo esse histórico, como Chico Diaz está atualmente?

Chico Diaz – Como é que eu ‘tô’? Eu estou bem obrigado! Bem acompanhado. (Ele brinca, se referindo a atriz Maria Padilha e a sua esposa e também atriz Silvia Buarque, que estavam no local). E fazendo alguns filminhos por aí, não estou acompanhando a nova safra do cinema pernambucano porque não está dando, mas está tudo certo.

A – Hoje você prefere trabalhar em cinema ou em TV?

C – Um pouquinho de cada um. Ficar mudando de suporte pra suporte. Primeiro televisão, depois teatro e cinema e ficar voltando, é o que interessa ao ator. Vir de diferentes qualidades de meio. Em televisão muita cena pra decorar, muito trabalho, no cinema também e no teatro o público vibra, então tento me mover por esse três.

A – Qual o seu próximo projeto dentro do cinema?

C – Estou filmando 'Sudoeste' do Eduardo Nunes, no Rio de Janeiro, estreando 'Moby dick' do Aderbal Freire, no Rio de Janeiro e estou lançando 'Saens Peña' que está aqui agora e um outro que se chama 'O sol do meio-dia' da Eliane Gauze.

A – E fazendo cinema, o que é mais gostoso e o que é mais trabalhoso?

C – O que é mais trabalhoso é esperar, é não fazer nada. É ficar esperando. E o que é mais gostoso é trabalhar bem, contracenar bem, viver em equipe. Acho que o grande barato do cinema é viver em equipe, cada um com sua função, parecendo uma ‘maquininha’ toda bem lubrificada, é isso.


A título de curiosidade, 'Praça Saens Peña' conta com a participação especial do cantor Aldir Blanc e ainda tem no elenco principal Maria Padilha, Gustavo Falcão e Isabela Meirelles. O diretor conta que a ideia do roteiro surgiu de experiências dele mesmo, no bairro da Tijuca.

Quem não conferiu o longa na programação do festival, agora só resta esperar entrar em circuito nacional.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Um misto de delicadeza e qualidade

Por Laís Sampaio

A noite da quinta-feira do 13° Cine PE, foi com certeza a de maior público durante o decorrer da semana e de melhor qualidade visual quanto aos curtas e longas apresentados.

Por uma falta de organização, o festival atrasou na programação e deu início em torno das 20h. Logo tivemos a premiação ao homenageado da noite, o cineasta Roberto Farias.

Roberto sempre teve em sua vida uma paixão pela sétima arte. Trilhou em seu caminho cerca de 10 filmes como assistente de direção e produção até estrear como diretor em 1957, com o Rico Ri à Toa. Mas sua “fama” aconteceu ao filmar a trilogia de filmes com Roberto Carlos: Roberto Carlos em Ritmo de Aventura (1968), Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa (1970) e Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora (1971). Além do mais, Roberto foi presidente do Sindicato Nacional da Indústria Cinematográfica e o primeiro cineasta a dirigir a Embrafilme.

Durante a premiação, Roberto Farias comentou o valor do cinema brasileiro e de todos os cineastas que acendem essa qualidade, dentre eles, Glauber Rocha e Luís Carlos Barreto, e também da importância que é receber o Troféu Calunga e do reconhecimento do Festival perante aos cineastas brasileiros. O prêmio foi entregue pelas mãos do cineasta Luís Carlos Barreto, homenageado pelo Cine PE no ano anterior.

Na Mostra Competitiva de Curtas Digitais e em 35MM, dentre os 5 apresentados, o “Os Sapatos de Aristeu” (Luiz René Guerra – SP), o “SuperBarroco” (Renata Pinheiro – PE) e o “Nós Somos um Poema” (Sergio Sbragia e Beth Formaggini – RJ), se destacaram por uma qualidade completa (fotografia, temática, produção, elenco) que estava realmente faltando no festival.

Os Sapatos de Aristeu, já apresentado no Festival Janela Internacional de Cinema do Recife, é de grande sensibilidade de construção visual. Todo em preto e branco, o curta retrata uma situação de debate, como a sexualidade e a morte. Ainda mais, juntas. Porém, com um misto de simplicidade, perdão, família e sociedade. Contudo, nos leva a uma reflexão na qual até que certo ponto, aceitamos as diferenças e os preconceitos de ter que viver uma “vida feliz” longe do local familiar. Por meio de um sapato, o ato simbólico de sua opção sexual, Aristeu foi enterrado juntamente a um terno, quebrando dogmas e conceitos herdados.

SuperBarroco, quebra a trilha do desejo e entra em forma de sonho. Um jogo de projeções, cores, imaginação, sentimento. A cada sequência do curta, ideias vão surgindo. A narrativa é pequena, mas a expressão é enorme. Caminho de solidão, um corpo presente se torna ausente. Extremos que se encontram da forma mais barroca do curta-metragem contemporâneo.

Que essa pérola chegue ao Festival de Cannes!

Nós somos um poema, é o documentário de encaixe perfeito da história da Música Popular Brasileira. O encontro de Vinícius de Moraes e Pixinguinha para compor a trilha sonora do filme de Alex Viany, Sol sobre a Lama (1963). Depoimentos, imagens de arquivo, com participações de convidados ilustres e versões de plenitude sonora de Elza Soares, Céu, Jards Macalé e entre outros.

Muito delicada a quarta noite do Cine PE. Que assim seja para melhor!

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Teresa emana delicadeza

Por Lorena Tabosa

Sutileza. Talvez essa seja uma boa definição para Teresa, curta-metragem exibido ontem no Cine-PE Festival do Audiovisual.

O filme, dirigido por Renata Terra e Paula Szutan, encontra seu início em um belo par de olhos verdes. Logo descobrimos que este pertence a Teresa, uma moça de Minas Gerais que veio a São Paulo atrás do noivo, João, e do casamento.

Teresa é o que chamamos, convencionalmente, de romântica. E o romantismo, na maioria das vezes, leva à ingenuidade. Este é justamente o caso.

Apesar disso, e , provavelmente, por conta disso, o curta é de uma delicadeza iminente. Iluminação, tomadas em ângulos estratégicos e a "carinha de anjo" da atriz também contribuem de forma incisiva com tal impressão.

O ponto alto da história reside no fato de que, mesmo após se dar conta de que João não virá buscá-la na rodoviária, a esperança de Teresa permanece intacta, assim como seu ritual diário.


Todos os dias pede licença do trabalho, na lanchonete do próprio terminal, vai até o banheiro e se põe em frente ao espelho. Solta os cabelos, veste o casaco (que deve ser o predileto de João) e passa seu batom vermelho nos lábios, com uma expressão de quem nunca se cansa de esperar.

MURO chega consagrado


Por Elizabete Tavares

MURO (PE) de Tião (Bruno Bezerra) chegou consagrado na noite de terça-feira ao Cine-PE após ganhar o prêmio Regard Neuf (Olhar Novo) da Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes 2008. Filmado em Serra Talhada, sertão de Pernambuco, conta com boa fotografia e som. Não é fácil de explicar e é um exercício para os espectadores, pois não passa um sentindo “logo de cara” e deixa espaço para várias indagações e interpretações. Copos de vidro dançando sobre uma mesa, mulher enterrada no chão, um grupo de crianças apostando corrida, homens “encostados” em um muro, homens de terno correndo, um homem meio desmaiado que balbucia algumas palavras... Os diversos “núcleos narrativos” se entrelaçam e por fim se unem pelo sentimento. Ao fim da exibição o público ficou dividido entre entender, não entender, se chocar, indagar, adorar, detestar. Aproveitando que tive oportunidade de conversar com Tião, fiz uma rápida entrevista na tentativa de esclarecer seu ponto de vista e inspirações.

Elizabete: Como surgiu a inspiração para fazer o curta?

Tião: A ideia do filme foi uma das primeiras que eu tive. Ela partiu do Muro, da cena do Muro. Daí fui pensando um pouco em o que é que fazia as coisas estarem ali... E em algumas situações que falavam um pouco sobre isso. Situações que se ligavam pelo clima, pelos temas... Aí depois que eu tive essa ideia, sempre anotei outras no caderno, algumas relacionadas com foto e instalação. Eram ideias para mídias diferentes que depois quando vi se encaixavam e pareciam que todas tinham nascido umas para as outras. Depois disso passei a trabalhar no roteiro em cima de todas elas juntas.

Elizabete: Do surgimento da ideia inicial até à concretização demorou muito?

Tião:
Da primeira ideia até o fim... 5 anos. Foi um processo intercalado com Eisenstein, meu outro curta onde dividi a direção com Raul Luna e Leonardo Lacca, e também com minha faculdade de Jornalismo que estou terminando agora.

Elizabete: Em que se baseia MURO?

Tião: Não sei falar assim qual é a história... Eu defino Muro como alma no vácuo deserto em expansão. Ideias separadas que se uniram pelo sentimento. Ele fala de várias coisas e algumas histórias que são separadas e acabam se unindo às vezes não narrativamente, mas pelo sentimento mesmo e pelo que falam.

Mistéryos

Por Alexandre Cunha

Segundo longa-metragem exibido no festival, a produção curitibana Mistéryos (Beto Carminatti e Pedro Merege, 2008) deixa-nos, ao menos, uma reflexão: como um festival do porte do CINE-PE, que se dá ao luxo de receber o vencedor do oscar Costa-Gavras, tem a coragem de exibir uma obra desse nível na mostra mais importante do evento? Tão escandaloso quanto é constatar que, na mesma noite, subiram ao palco, homenageados, o lendário Fernando Spencer e a talentosa Dira Paes, atriz com mais filmes na bagagem após a retomada do cinema nacional, pós-Collor. O sentimento de frustração, durante os rastejantes 80 minutos do filme, foi, arrisco dizer, pleno.

Tentativa absurdamente equivocada de criar uma atmosfera sombria, a produção aborda três casos supostamente misteriosos. Pretensão pura. Em momento algum há, de fato, suspense na tela e a insistência nas (três) histórias risíveis torna a película numa incessante tortura cinematográfica (em todos os aspectos, todos). O roteiro, beirando o amadorismo, se utiliza de fórmulas clichês (e altamente mal usadas) para dar fluência à narrativa. O uso de legendas, transmissões radiofônicas e depoimentos dos personagens demonstram preguiça e pragmatismo por parte dos idealizadores. A narração em off desgasta e diálogos como "- tô esperando meu namorado./ - enquanto ele não chega, eu te faço companhia." extermina a paciência presente em cada alma cinéfila. Se há algum ponto não tão negativo no filme, é a fotografia. Quase sempre escura, é adequada à proposta do enredo.

Os atores fazem o que pode com a estupidez que lhes fora incumbida. Mas, só de participar de algo do tipo, é condenável. Carlos Vereza, grande ator, parece não mais se importar com as produções que adentra. Depois do protótipo de novela "Bezerra de Menezes: O diário de um espírita", o veterano intérprete mancha ainda mais sua carreira com "Mistéryos". Merece certo mérito, porém, por, ainda que dentro do absurdo, conseguir extrair uma atuação eficiente. Seria mais interessante, entretanto, utilizar a competência que possui em algo relevante. Atores das simulações do extinto Linha Direta seriam, certamente, adequados a esta produção, que me fez sentir saudades de Você Decide.

Ao acender das luzes, os remanescentes espectadores (leia-se batalhadores) agradeciam. Não aos realizadores, não à organização, mas à inflexibilidade do tempo que, ainda bem, não se atrasa. Nos créditos, orei. Implorei aos deuses cinematográficos para que os próximos longas do festival não sejam tão 'longos'. Que minha fé não seja abalada.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Eiffel provoca reflexão em 2ª noite de Cine-PE


Por Elizabete Tavares

Na noite de ontem um dos curtas mais esperados foi o experimental Eiffel, do jornalista e crítico de cinema pernambucano Luiz Joaquim, que trouxe reflexões de política, estética e arquitetura; traçando um paralelo entre a harmonia da torre Eiffel, cartão postal de Paris, e a desarmonia das torres residenciais gêmeas do Cais de Santa Rita, que destoam completamente da arquitetura onde estão localizadas.

“Ano passado (2008), revendo Os Incompreendidos , de François Truffaut, pensei que seria muito interessante se eu pudesse fazer no Recife o que ele fez com Paris homenageando a Torre Eiffel, um belíssimo ícone da cidade, enfim, um símbolo, pensei: será que a gente não tem um símbolo aqui no Recife que podia fazer isso? E não cheguei a nenhuma conclusão. Depois, pensei que temos um símbolo, mas por um motivo oposto, na verdade, uma negação do que é de bom gosto no sentido da estética. Um “ monumento” que já tinha criado uma grande polêmica velada: as torres residências gêmeas do Cais de Santa Rita”, disse Luiz Joaquim, em entrevista concedida ao Cineclube Revezes.

Assim como na abertura do filme Os Incompreendidos, onde a câmera percorre Paris observando de longe a Torre Eiffel, as “ Torres Gêmeas recifenses” foram filmadas de diversos ângulos fazendo uma crônica onde a música ajuda a acentuar e ilustrar as imagens.

Apesar de simples e curto, Eiffel passa bem “seu recado” e chama atenção das pessoas para esse assunto relevante, “ brinca” com seriedade e encerra com uma frase provocante: Cada lugar tem o monumento que merece!

Curtas do cotidiano urbano

Por Laís Sampaio

Um pequeno momento de prazer que representa um longa. Quase isso é a proposta dos curtas no Cine PE. A noite da terça-feira foi marcada de curtas com passagens do dia-a-dia na Mostra Competitiva de Curtas Digitais e em 35MM.

Selos, de Gracielly Dias (CE), é repleto de metáforas quanto à história de um menino de família humilde que com a ajuda do carteiro coleciona selos, mas que ao descobrir o caso de sua irmã com o seu “ajudante a colecionador”, bloqueia seus sentimentos e coloca um ponto final nessa viajem ao mundo.

6.5 Megapixels, de Michelline Helena, Gláucia Soares e Janaina de Paula (CE), relata sucintamente por um postal em preto e branco (a verdadeira imagem da cidade), o boletim de ocorrência depois de um roubo da câmera fotográfica de 6.5 megapixels em uma praia turística de Fortaleza. Simples, porém esteticamente cinematográfico. O diálogo é produzido pela própria diretora do curta digital e foi feito para seu curso de especialização.

Distração de Ivan, de Cavi Borges e Gustavo Melo (RJ), que é uma parceria com o grupo coletivo Nós do Morro (RJ) mostrou que a produção da sétima arte “engrandece” com uma participação global (o ator André Gonçalves faz uma pequena aparição) do eixo Rio-São Paulo e narra a observação de Ivan com os dias em seu bairro. De boa fotografia, o curta mostra fatos reais de uma visão infantil perante o mundo de hoje.

Um pequeno clichê, mas curta o curta. É esse o propósito das exibições que com o decorrer da semana, esperamos mais inovação e destaque.

Noite de curtas-metragens e grandes homenagens

Por Laís Sampaio

A segunda noite do Festival do Audiovisual de Pernambuco, o Cine PE, seguiu mais movimentada e repleta de homenageados ao Troféu Calunga. Grande maioria do público foi em busca dos curtas Eiffel e Muro, de Luiz Joaquim e Tião, respectivamente, da nova classe de cineastas da cena pernambucana.

O primeiro homenageado da noite foi o cineasta Fernando Spencer (PE), mais conhecido como o “cineasta das três bitolas” (super 8, 16 e 35MM). Spencer não é reconhecido somente como um roterista e diretor, mas, como um pesquisador e registrador de cinema local, ao marcar a época usando Super 8 em Pernambuco. Sua trajetória como cineasta começou em 1969 com um curta experimental e hoje possui 8 longas e 37 curtas, o último apresentado nesta noite do Cine PE. O hors concours Nossos Ursos Camaradas foi o primeiro curta apresentado após a premiação de Spencer, relatando um jogo de comparações entre os primeiros ursos que chegaram da Itália ao Recife em 1920, com as la ursas do Reinado de Momo e com os homens da modernidade. Ursos e homens, todos eles são camaradas.

Dentre as mostras competitivas de curtas digitais e curtas-metragem em 35MM, o documentário Nello’s, de André Ristum (SP), apresenta em uma narrativa de primeira pessoa super delicada e sensível, a história do ator Nello de’ Rossi entre o cinema e seu restaurante expressando que: “Na vida tem que fazer o que você gosta se não acaba trabalhando. Cuidado!”. O Teteco, de Glauco Kuhnert (RJ), foi todo filmado em câmeras de celulares e mostra a inclusão dessa tecnologia na parte do cotidiano urbano de todos.

TV, cinema e teatro. Dira Paes foi a segunda homenageada da terça-feira por ser a atriz com mais filmes nacionais no currículo. Ao todo foram em torno de 20 filmes, onde o primeiro foi aos 15 anos, The Emerald Forest (1985). Dira é uma atriz completa, tanto que produz há seis anos o cinema da Região Norte do país, o Festival de Belém do Cinema Brasileiro. Durante a premiação ela falou da importância do Cine PE como ponte para o cinema brasileiro, do orgulho de ser homenageada ao lado de Costa-Gavras (homenageado da noite anterior) e dedicou o Troféu Calunga ao seu filho Inácio, que está dando seus primeiros passos.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Filme de Costa-Gavras divide opiniões no Festival

Por Gabriela Alcântara

O diretor Konstantinos Gavras, conhecido mundialmente por seus filmes críticos como Amém (Amen), Z, O Quarto Poder (Mad City), entre outros, esteve ontem no Cine-PE para apresentar o seu último filme: Eden À L’Ouest (Éden ao Oeste), uma ficção de 2009 que fala sobre os imigrantes ilegais na França e o tratamento que eles recebem.

A película de Gavras fugiu um pouco do tom dramático comum aos seus filmes, tratando a temática com toques de humor e uma narrativa mais leve, porém sem perder a sensibilidade e o tom crítico e inteligente. Com algumas sacadas geniais em meio ao humor, Éden ao Oeste conta a história de Elias (Riccardo Scamarcio), um imigrante ilegal que deseja ir a Paris em busca de emprego.

Graças à mudança de tom na narrativa, o filme de Costa-Gavras acabou por dividir opiniões entre os espectadores, que já estavam acostumados com o tom mais sério de seus trabalhos anteriores. Pedro Correia de Araújo, 19 anos, disse esperar mais de um filme de Gavras. Já Milton Raulino, 20 anos, gostou do uso do humor e da leveza para explanar algo que é polêmico.

Não é de se estranhar as opiniões divididas em relação a um filme de Costa-Gavras, diretor que sempre teve seus filmes extremamente criticados ou aplaudidos. Mas como todo cinéfilo sabe, cinema é polêmica, e se um filme não gera discussão, então não é um bom filme, é novela das oito.


Foto: Cena de Éden ao Oeste