sábado, 2 de maio de 2009

“Quer alho da cabeça roxa?”

Por Lorena Tabosa

O primeiro longa-metragem a ser exibido na noite de ontem, no Cine-PE, foi Alô, alô, Teresinha!, um documentário dirigido pelo jornalista, produtor e diretor de televisão, Nelson Hoineff, que tem estreia comercial prevista para o fim do ano.

O filme, a princípio, fala sobre a obra de Abelardo Barbosa, o famoso Chacrinha. Contudo, talvez até pelo próprio formato do vídeo, os depoimentos dominam a produção, e acabam conduzindo a trama aos dramas pessoais dos entrevistados, ao invés de tratarem das histórias do Chacrinha.

Mais de 25 chacretes foram contatadas, e logo encheram a tela com os desmazelos trazidos pelo passar do tempo. Sem os corpos esculturais e a fama de antigamente, que lhes rendiam várias propostas por parte do sexo masculino (como o filme faz questão de deixar claro ao trazer falas do tipo “fulano ‘comeu’ cicrana”), as chacretes traçam um triste panorama do que é uma vida sem reservas, sem pudores. A única que parece ter “vingado” na “carreira artística” é Rita Cadillac, que ganha seu pão de cada dia permitindo que deem beijocas em seu bumbum malhado, uma vez que deixou de atuar em produções pornográficas.

Não é preciso procurar muito para encontrar outra expressão de humor negro no longa: as frustrações dos ex-calouros. Muitos deles ainda não superaram as buzinadas que levaram no programa, como é o caso de Manuel de Jesus, que ainda hoje jura, de pés juntos, que canta muito melhor que Roberto Carlos.

Esse tipo de tomada despertou no público levantes e mais levantes de gargalhadas. Por conta disso, é plausível afirmar que o filme foi muito bem recebido, ainda mais levando em conta que foi sua primeira exibição para o grande público. No entanto, mesmo sabendo que o riso nem sempre está relacionado a uma veia cômica, tais reações levam a pensar que o povo gosta mesmo é de rir da desgraça alheia.

Apesar disso, a obra tem momentos interessantes, como depoimentos de artistas, que vão desde a saudosa Dercy Gonçalves até o Russo, e da viúva do Abelardo. De acordo com Alceu Valença, “O chão de Chacrinha foi a cultura popular”. Ele está, em parte, certo. O programa do Chacrinha foi o primeiro a dar espaço ao movimento da Tropicália, e seu estilo “escrachado” sempre fez sucesso com o público. No entanto, haveremos de convir que jogar bacalhau para a plateia pode não ser a melhor forma de levar cultura à população.

Nelson Hoineff, que já esteve à frente de mais de 500 documentários, começará a gravar seu novo longa em duas semanas. Este contará a história de Cauby Peixoto, cantor brasileiro em atividade desde os anos 1940, e que é famoso pelo seu timbre de voz grave e aveludado e pelo seu estilo excêntrico. Esperemos que seja realmente o Cauby o protagonista da produção.

2 comentários:

laylla monique disse...

QUE BOM SABER MAIS SOBRE ESSE FILME, EU, QUE HOJE AOS VINTE E NOVE ANOS, TIVE O PRIVILÉGIO DE ASSISTIR AINDA BEM JOVEM ENTRE OS 5 E 6 ANOS DE IDADE, ESSE PROGRAMA DO CHACRINHA ERA UMA VERDADEIRA PÉROLA.
ADOREI ESSA MATÉRIA LORENA, MATOU UM POUCO DAS MINHAS CURIOSIDADES A RESPEITO! PARABÉNS

Cela Balbino disse...

Lorena,mandasse bem na matéria!!

Bem,eu gostei bastante do filme,achei que ele fez uma 'retrospectiva'interessante da década de 80.
A figura iconoclástica que encontramos no Chacrinha conseguiu agregar diversos segmentos musicais,desde Ney Matogrosso,dos caras da Tropicália até um calouro,persistente,que levou 26 buzinadas!!

Eu confesso que tinha expectativas negativas quanto ao filme,porque nunca simpatizei muito com a figura do Chacriha,mas o formato esoclhido por Nelson Hoineff de mostrar o programa do Chacrinha do ponto de vista das chacretes/calouros e de alguns participantes foi muito bem sucedido.

Contudo,o filme me transmitiu uma sensação de angústia por aquelas pessoas que tiveram seus '15 minutos' de fama e agora vivemuma eterna busca por mais 15 minutos,como é o caso de Manuel Carlos(o calouro que ainda busca ser cantor),uma chacrete que fez um book e deixa as fotos expostas pela casa... Não é mais uma relação de nolstagia com tempos gloriosos,muitos caíram em uma verdadeira ilusão,um passado de 'prestígio' que está completamente morto e enterrado.

'Rita Cadillac que era a mais analfabeta de todas as chacretes foi a que se deu melhor'!